No libreto contemporâneo de Ricardo Neves-Neves para a opereta Maria da Fonte, de Augusto Machado (1845-1924), percebemos a motivação para a Revolta do Minho nesta deixa do Chefe do Exército Real.

Figura de proa da revolta iniciada na região da Póvoa de Lanhoso, em 1846, Maria da Fonte, real ou ficcional, personificou o descontentamento e a insurreição do povo português face às medidas tomadas pelo autoritário Governo liderado por Costa Cabral durante o reinado de D. Maria II.

De regresso da sua temporada em França, onde se ligou a Massenet e a Saint-Saëns, o compositor Augusto Machado estava interessado em criar repertório a partir de factos históricos nacionais. A força de uma mulher que mobiliza um país e faz cair o Governo foi o ponto de partida para uma opereta com libreto de Batalha Reis, Gervásio Lobato e Eça Leal, estreada no Teatro da Trindade, em 1879. O Laboratório de Ópera Portuguesa recuperou esta obra esquecida, trazendo-a até aos nossos dias. O maestro João Paulo Santos organizou e reabilitou a partitura original, doada à Biblioteca Nacional pela bisneta do compositor. O libreto do texto falado, dado como perdido, foi recriado a partir do remanescente pelo encenador Ricardo Neves-Neves, num constante diálogo humorístico entre o século XIX e o século XXI.