Rara é a banda sonora que revela a voz do artista de forma tão imediata como a que Chaplin criou para City lights. A Orquestra Sinfónica Portuguesa interpreta esta obra de 1931 na edição restaurada por Timothy Brock, que também subirá ao pódio neste concerto.

Concebido na fase inicial da era sonora mas ainda marcado pela expressividade do cinema mudo, City lights destaca-se pela precisão com que Chaplin moldou a sua linguagem musical. Em estreita colaboração com Arthur Johnston, compôs uma partitura que respira segundo o tempo do próprio filme: ritmos elásticos para a coreografia do “vagabundo”, graciosas linhas melódicas para a “vendedora de flores” e uma paleta orquestral enriquecida por saxofones, banjo, harpa, celesta e uma secção de percussão invulgarmente vívida.

O restauro de Timothy Brock recupera a escala e o intimismo do ensemble original, restituindo articulações e práticas performativas características dos músicos das orquestras de estúdio dos anos trinta. O resultado é um universo sonoro de notável clareza, em que cada gesto sustenta a narrativa de Chaplin e revela o cuidado que este investiu na sua primeira banda sonora completa.

A Orquestra Sinfónica Portuguesa reafirma, neste concerto, o empenho na apresentação de marcos da música para cinema através de restauros historicamente informados, oferecendo ao público um renovado encontro com uma das mais emblemáticas obras-primas de Charlie Chaplin.