Apesar de, na primeira metade do século XIX, o “gosto português” ter continuado a privilegiar a ópera italiana, a lenta introdução da música instrumental centro-europeia em Portugal deveu-se, em grande parte, à visão e empenho de João Domingos Bomtempo.

Este concerto, inteiramente dedicado à música de câmara das primeiras décadas de Oitocentos, inclui a Serenata para sopros e piano do compositor português, lado a lado com obras de Carl Czerny, Conradin Kreutzer e Gioachino Rossini. Juntas, estas peças exemplificam um repertório de música de câmara – neste caso, para instrumentos de sopro e piano – que deu resposta aos anseios de novidade que então se espalhavam pelos salões europeus.
Se Czerny e Kreutzer representam a continuidade da tradição instrumental germânica cuja matriz se encontra na chamada Tríade de Viena – Mozart, Haydn e Beethoven – também Rossini, figura central da ópera nas décadas de 1810 e 1820, e Bomtempo buscaram inspiração nesse legado.

A reunião destas quatro peças num mesmo programa justifica-se não apenas pelas afinidades estilísticas, mas também pelos paralelismos e cruzamentos nos percursos dos seus compositores. Bomtempo, neste contexto, é um exemplo paradigmático de músico cosmopolita: ao internacionalizar-se, teve contacto com as principais instituições e correntes interpretativas do seu tempo, procurando adaptá-las à realidade portuguesa e contribuindo decisivamente para a modernização do panorama musical nacional.